Dias atrás, durante um
fim-de-semana, uma lancheria em Novo Hamburgo teria fornecido para dezenas de
famílias alimentos supostamente contaminados e impróprios para o consumo.
Segundo a imprensa, foram
quase 150 pessoas atendidas em regime ambulatorial e até mesmo com internação
hospitalar. Nas redes sociais esse número atingiu cerca de 600 intoxicados.
Talvez porque muitas dessas
pessoas ou famílias contaminadas sequer tenham procurado atendimento médico,
preferindo automedicação caseira, com receitas de nossos avós.
Sem dúvida que, acaso
confirmada essa contaminação, dita
lancheria seria responsável, sim, por essa suposta intoxicação alimentar, tanto
por colocar em risco a saúde pública quanto por afrontar direitos e a
integridade física de seus consumidores.
A Vigilância Sanitária da
Prefeitura, já na segunda-feira, interditou o bar tido como responsável,
informando à imprensa que o local nunca teve licença sanitária, e que suas
instalações se apresentavam impróprias e em desconformidade com as normas
sanitárias exigidas.
Ainda hoje o mencionado bar
permanece interditado, e seus responsáveis em lugar incerto e não sabido,
segundo os jornais.
Pois bem.
Muito embora a presumível responsabilidade
dessa lancheria, a circunstância de elaborar e comercializar alimentos à
população sem licenciamento sanitário, e até alvará de funcionamento adequado -
ou seja sem qualquer fiscalização pela Vigilância Sanitária da Prefeitura - demonstra,
igualmente, uma grave omissão do Poder Público na salvaguarda da saúde pública.
Fosse atuante e eficiente, a
Vigilância Sanitária poderia agir modo preventivo, evitando, ou pelo menos
minimizando, casos de intoxicação alimentar de consumidores como esse narrado pelos
jornais.
Esta falta do serviço - “faute du service” no jargão jurídico -
gera a culpa concorrente da Prefeitura - chamada culpa “in vigilando” - porque é dela a obrigação de fiscalizar essas
atividades e somente permitir a exploração de restaurantes, bares e lancherias,
depois de concedido o correspondente licenciamento sanitário.
É impressionante o descaso da
Prefeitura para com a saúde pública do cidadão.
Pergunta-se - quem vai ao
supermercado regularmente, porventura já encontrou fiscais da Vigilância
Sanitária inspecionando suas instalações, condições dos alimentos ofertados,
etc., ou os respectivos prazos de validade ?
Pergunta-se - quantas vezes
consumidores já encontraram alimentos perecíveis com o respectivo prazo de
validade já vencido mas ainda expostos e em oferta nas gôndolas dos
supermercados ?
Pergunta-se - quantas vezes
se observam alimentos perecíveis, e que deveriam ser mantidos refrigerados,
espalhados ou abandonados em gôndolas ou cestas dos supermercados sem qualquer
refrigeração ?
É certo que nós, consumidores,
temos nossa parcela de culpa por sermos desatentos, mas é certo igualmente
que esta ausência de fiscalização pela Vigilância Sanitária da Prefeitura contribui,
e muito, para a ocorrência de desrespeito às normas e exigências sanitárias.
Afinal, pagamos impostos e
taxas exatamente para que a Prefeitura preste os serviços públicos de sua
responsabilidade, exatamente para que a Prefeitura faça a sua parte e cumpra
suas obrigações para com a população.
Agindo não somente depois do
desastre, mas, modo permanente, atuando preventivamente, fiscalizando todos os
estabelecimentos que elaboram e/ou comercializam alimentos.
Não só quando expedem suas
licenças sanitárias, mas fiscalizando regular e periodicamente ditos
estabelecimentos, sob pena de assumir a co-responsabilidade, por omissão à sua
obrigação de fiscalizar essas atividades.
Mas,
enquanto a Prefeitura não mostrar eficiência e atuação de forma preventiva e permanente, o risco de novas intoxicações
por alimentos contaminados, vencidos ou mal acondicionados, continuará.
E, enquanto isso, o cidadão continuará refém
dessa omissão - ou seja, a sociedade que se lixe !
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